LUZ LIZARAZO | PIEL

A pele é o maior órgão do corpo humano. Um grande tecido que nos rodeia por fora. O principal foco do meu pensamento artístico é o ser humano, mas se eu quiser ir mais fundo diria que o humano ou a nossa humanidade é o que eu observo com mais cuidado. comecei minhas primeiras observações sobre a pele em 2006. Foquei meu interesse dentro do corpo e dentro da pele. Elaborei desenhos diferentes, criando tecido muscular, veias, artérias e ossos. Fiz cortes imaginários transversais e longitudinais através de corpo todo, dissecando a minha maneira pra poder-lhe entender, ouvir, e transformar. Anos mais tarde volto ao corpo através da pele, mas de outra forma. A nossa pele, o grande tecido que nos rodeia, que estica e encolhe ao longo de nossas vidas, mudando de cor, textura, se fere, repara, adoece e cura. Uso então, meia calça como uma metáfora para falar sobre esse órgão do corpo. Este elemento feminino torna- se orgânico, corpo e pele só quando contido pelo corpo humano, é elástica e delicada como a nossa pele. Só uso tons de pele. Nossas peles. A cor humana, mas também a cor da terra. E começo a dissecar como um taxidermista na largura e cumprimento, nas pontas, nos saltos, cintura, a união das pernas, as costuras. com as dissecções deste tecido começo a executar tecidos diferentes. Unindo os tons diferentes e seções semelhantes, vou criando o que na minha opinião são pinturas abstratas. Pinturas tom de pele. meu espaço de trabalho é preenchido com uma pele tecida, um grande cobertor que poderia cobrir nosso corpo e me faz refletir sobre esses lugares íntimos, habituais, como extensões de nosso corpo, nossa pele. A pele que habito. O toque da pele espalhado sobre o território. Então elaboro os planos destes lugares tão familiares para mim neste material elástico e delicado. Utilizo tons diferentes para marcar espaços diferentes ou aproveito a transparência para sobrepor um pano sobre outro e fazer a diferença ou a passagem de um espaço para outro no mesmo plano. Eu me afasto do figurativo com um elemento que só faz sentido se for habitado pelo ser humano.