MAI BRITT WOLTHERS | SERRA
Exposição de 24 de janeiro a 23 de fevereiro
Exposição 'Serra' na Pinacoteca Benedicto Calixto
O percurso pela exposição de MW claramente leva de uma atmosfera luminosa a um clima mais cerrado e sombrio; é uma espécie de equivalente artístico à experiência de entrar numa floresta que, uma vez que a mata tende a se apresentar progressivamente mais fechada, acaba levando a um breu indevassável. A narrativa de um trajeto por uma certa paisagem, portanto, é o que a artista parece propor. Uma imagem de natureza. As imagens da arte, segundo a feliz definição de Jacques Rancière, são operações que produzem uma distância, uma dessemelhança. Para ele, essas imagens podem ser figuras ou abstrações; podem se valer da verossimilhança em maior ou menor medida; podem também negar o verossímil ou encadear-se vinculando o que é visível com significados sequer passíveis de serem percebidos sensorialmente. A paisagem, aqui, é tanto o resultado da convivência do olhar nórdico de MW com a exuberância dos trópicos, ao longo dos anos que a artista trocou a Dinamarca pelo Brasil, quanto é a negociação pictórica entre formas e cores que ela elege para habitarem suas telas. A imagem de natureza que está em jogo diz respeito ao que está fora do museu, ao alcance do olhar através das janelas da sala expositiva, mas também ao que está dentro de cada visitante: as memórias ativadas e as sensações evocadas pelo verde, pela luz, pelo breu, pelo silêncio. De tudo isso se pode desfrutar neste percurso. A presente exposição trata de paisagens externas e interiores e propicia distanciamentos e aproximações do tema da natureza, e só pode ser apreendida plenamente no processo de caminhar, encontrar-se e perder-se e olhar de novo, transformado pela viagem, para o que parecia decodificado, mas na verdade não está. Juliana Monachesi