Chico Cunha cria pequenas cenas e as insere na paisagem tornando-as histórias universais. Suas cores e delicadeza dialogam diretamente com a poética de Guignard e Bruegel, a pintura chinesa e os biombos japoneses da arte Nanban, caminhos conceituais para seu trabalho. Há dados relevantes na produção desses pintores que interessam ao artista como modelo de especulação: os grupos figurativos e o espaço ali utilizados.
Os espaços externos e internos são assuntos que o interessam, se revezam nas pinturas e abraçam personagens em torno de micro enredos provenientes de seus interesses pela literatura, o cinema e as redes sociais, em cenas que indicam o ápice de um conflito dramático ou contemplativo; sem lugar, causa ou consequência, protagonista ou antagonista, essas cenas apresentam personagens num clímax sem desfecho. Deste modo, sua pintura ocupa-se em apresentar vastos espaços com pequenos acontecimentos, tal qual Bruegel em “Jogos infantis”, contudo em Chico Cunha estas ações se dão de modo independente umas das outras sem que haja conexão exata entre elas. É como se fosse necessário olhar o mundo como uma imensa área de acontecimentos que se relacionam através do compartilhamento espacial.
A visão do artista, que se ocupa em observar amplamente o mundo é da ordem do sublime, daquilo que é espantoso, transcendente e inaudito. Trata-se de uma experiência diante do transitório, do efêmero, da consciência da fugacidade do ser, por essa razão sua paisagem pode ser traduzida como uma experiência mais interna e psicológica.
Pintar, mais que um comentário é uma modalidade de apreensão das coisas e por isso mesmo é a materialização de uma abordagem do mundo. É claro que o ritmo circunstancial do homem diante da estranheza das coisas exige dele mesmo uma ação, e a pintura, além de ser uma alternativa, neste caso, é uma atitude analítica. Como nos disse Merleau-Ponty “Emprestando seu corpo ao mundo é que o pintor transforma o mundo em pintura. Para compreender estas transubstanciações, há que reencontrar o corpo operante e atual, aquele que não é um pedaço de espaço, um feixe de funções, mas um entrelaçado de visão e movimento” ...é este caminho que Chico Cunha atravessa.