DAISY XAVIER | ESPAÇO IMEDIATO

Espaço Imediato, individual da artista Daisy Xavier, somos confrontados com o intervalo existente entre a definição e indefinição das coisas. É nesse constante deslocamento que Daisy aprimora a pesquisa que acompanha seu processo artístico e aborda de maneira sutil e pontual a rigidez e maleabilidade das formas. Assim, as obras se desenvolvem a partir da tentativa de abstração do espaço.

A rede, elemento recorrente na obra da artista, aparece agora tecida por fios rígidos criando volumes vazados e transparentes, que se assentam sobre a tela erigindo edificações agudas e angulosas. Essas pequenas arquiteturas de metal provam a existência da matéria ao mesmo tempo em que indicam a imaterialidade e precariedade do recorte. O espaço aparece ali de maneira presencial, aqui e agora. Um espaço imediato – não permanente, sempre outro – que a qualquer movimento do olhar se desloca e se transforma.

Nesse jogo de contraposições temos também as variações das características dos elementos inseridos. A lã, por exemplo, se solidifica tanto quanto a haste de aço, ao mesmo tempo em que a trama metálica articulada assume uma organicidade flexível e arqueável. É partindo dessa dinâmica de reconfigurações que Daisy exercita a potencialidade de seu trabalho, ao imaginar a criação de um espaço a partir do encontro de vários vetores. O olhar sobre a obra circula as realidades existentes a cada momento – a rede, a lã, o desenho, a luz e as sombras –. É preciso percebê-las rapidamente, pois a cada instante se reconfiguram.

No livro Sete Breves Lições de Física, Carlo Rovelli nos apresenta um pensamento que diz respeito à construção do espaço. “Onde estão esses quanta de espaço? Em lugar nenhum. Não estão em um espaço, porque são eles mesmos o espaço. O espaço é criado pela interação de quantas individuais de gravidade. Mais uma vez, o mundo parece ser relação em vez de objetos.” O espaço se dá na interação, é urgente, é imediato.

A presença de cor no trabalho da artista, que antes vinha sendo construído numa escala tonal mais sóbria e de pouco contraste, é mais uma característica relevante nessa série. O laranja se apresenta como um aspecto visual potente, quase radical, numa incidência luminosa e de ruptura, que dialoga com a desconstrução dos espaços rígidos. Além disso, por ser uma cor secundária – mistura de duas cores primárias –, a obra nos faz questionar algumas confluências de narrativas no que diz respeito à edificação de um terceiro espaço que surge da contraposição de dois estados iniciais, o rígido e o maleável.

Para além de um entendimento cartesiano do espaço/tempo, “Espaço Imediato” se propõe, de maneira poética e prática, a diluir conceitos estabelecidos à medida que exercita a construção de um espaço impermanente, em constante diálogo com o dentro e fora, tensionando a existência e diluindo as barreiras do possível.

Texto curatorial - Bruno Portella

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