MAI-BRITT WOLTHERS | INCERTEZAS AMANHECEM
Curadoria Marcos de Lontra Costa
Novembro de 2018
As obras de Mai-Britt trabalham na confluência de vetores distintos que se encontram no espaço de materialização da obra de arte; o talento e a inteligência da artista agem na direção de selecionar e sintetizar experiências anteriores permitindo, assim, que diversas informações geográficas, estéticas, filosóficas e culturais atuem no interior de cada obra, dando-lhes potência e refinamento sensível e intelectual.
Nascida na Dinamarca, desde cedo Mai-Britt convive com a tradição pictórica dos grandes centros europeus. O Brasil trouxe para a artista a riqueza e a exuberância das paisagens e a capacidade de refletir
sobre o tempo em ritmos e escalas diferentes. Sua obra provoca o espectador pela dualidade; ela é exuberante, barroca e intensa, mas é também contida, objetiva e silenciosa. As cores vibrantes definem áreas marcantes circunscritas a elementos formais que atuam num cenário claro e despojado. No limite entre o figurativo e a abstração, a obra estimula o nosso olhar, convidando-nos a descobrir seus encantos e mistérios. Como uma esfinge contemporânea, ela provoca: “Decifra-me ou te devoro”. Assim são os enigmas da arte e os desafios da vida.
As paisagens são tema constante na trajetória da artista; ora elas falam de uma paisagem natural, externa e tropical, ora falam de uma paisagem doméstica, íntima e cotidiana. Por isso os seus elementos formais sugerem tanto imagens naturais oriundas da botânica quanto imagens criadas pelo homem em ações artesanais e mesmo industriais. O tempo aproxima essas dicotomias e define o objetivo maior da artista. Nas pinturas, nos objetos e nos vídeos permanece a ideia do “vir-a-ser”; tudo aqui respira, inspira e conspira, vivendo momento a momento e fazendo da obra de arte uma metáfora precisa de nossa existência. Com elegância e paixão, Mai-Britt mostra a todos a capacidade da ação artística como ferramenta regeneradora, fazendo da vida uma comunhão de belezas e encantos.