DAISY XAVIER: MONSTERA DELICIOSA

27.02.2024

 
 
 
 

Entre um laboratório e um jardim selvagem que o cerca, existe uma membrana que tenta, eventualmente consegue - e necessariamente falha - em estabelecer um controle na relação entre os dois espaços.

A natureza, indiferente aos limites desenhados e desejados por um projeto humano, invariavelmente, se negará a respeitar a lógica ortogonal do laboratório: revelará sua impotência, ultrapassará limites supostamente negociados e estabelecerá desconfortos em sua ocupação.

A membrana é incapaz de conter a imposição da paisagem, mas permanece intacta, como uma fronteira fantasma. Potente, não por heroicamente resistir, mas justamente por permitir a entrada de todo tipo de estranhezas-acidentes-exuberâncias-monstros-excessos, fazendo dessas invasões, seu alimento mais nutritivo.

Se a presença da membrana inicialmente parece nos orientar para um processo duplo, seja de rejeição/aceitação, medo/encantamento ou controle/exuberância, o trabalho gerado surge justamente nos pontos onde se dissolvem os pólos dessas dualidades. Nessa série da artista, o laboratório se transforma em ateliê, um espaço de transcendência, onde o que supomos serem as regras da natureza parecem se confundir com as repetições, simetrias e rigor da arquitetura. Onde estranhas perfeições são observadas e articuladas a ponto de nos fazer pensar que aquela natureza nada tem de natural. Há assim, no ateliê, algo que transcende nosso entendimento, suspende nosso ímpeto lógico e nos conduz, sem resistência, à perplexidade. Talvez seja isso o que chamamos de beleza.

Antonio Simas

 

Me interessam os deslocamentos físicos e mentais para repensar referências e percepções.

Insisto em trazer meu trabalho para as situações do cotidiano e através delas acessar os estados de mudança e perplexidade. Olho com estranhamento tanto para a placidez da paisagem quanto para o caos. Tento manter a arte como um exercício de imprevisibilidade e perda de controle. O desenho e as colagens funcionam como uma janela poderosa para expandir a geografia mental. Ir do mais íntimo para o mais abstrato e vice versa. Frequentar um estado de suspensão como exercício poético. Suspeitar de tudo que está dado, de tudo que está estabelecido (...)

                                                                                                                              Daisy Xavier

 

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