CLAUDIA MELLI | RESPIRA
Como se depreende de seus desenhos/pinturas/fotografias (como situar com precisão esses trabalhos fundados na delicadeza e no enigma?), Claudia Melli é fascinada por acontecimentos discretos: o modo como os murmúrios brotam à tona do silêncio; o arfar suave de um animal dormindo; as andorinhas que se lançam pelo azul até adejarem a superfície do mar; a superfície do mar, calmo e prateado, estilhaçado em uma miríade de ondas pequenas e ininterruptas; as danças circulares praticadas em pontos diversos do planeta, que se vão expandindo, ressoando, repercutindo, em direção ao desejo de juntar o mundo todo num mesmo ritmo de corpos e corações.
Para essa exposição, Respira, a artista produziu uma série de paisagens. Paisagens diferentes, não propriamente estranhas, mas pouco frequentadas: paisagens submersas, semelhantes as que encontramos no chão do mar perto da costa. Do mesmo modo como suas outras séries agarram nosso olhar, obrigando-o a descer, a atender o apelo da gravidade, essas pinturas sobre papel leva-nos para dentro de atmosferas densas e esverdeadas, habitadas por plantas longilíneas e translúcidas, que dançam molemente ao som de uma música inaudível, o que não impede que a imaginemos.
Claudia Melli escuta o mundo. Preocupada em realizar um registro do que nele é essencial, aproxima-se com todo cuidado e concentração possíveis, e dele volta com notícias animadoras. Pois contra um cotidiano veloz e massacrante, ela apresenta espaços e tempos calmos, além de ações elementares e básicas, como a prática de um desenho que pretende ir muito além da folha de papel. Com esse novo conjunto de trabalhos, Claudia oferece-nos a lição de que talvez a prática da quietude seja a estratégia fundamental para percebemos o elo íntimo entre a nossa respiração e a do mundo.
AGNALDO FARIAS
Agnaldo Aricê Caldas Farias (Itajubá, Minas Gerais, 1955). Professor, curador e crítico de arte. Em 1980, forma-se em arquitetura e urbanismo pela Universidade Braz Cubas, em Mogi das Cruzes, São Paulo. Prossegue sua formação acadêmica com mestrado em história pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em 1990, e o doutorado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP), em 1997.
Participa da 16ª e 17ª edições da Bienal de São Paulo, em 1981 e 1983, na seção de cinema da equipe do curador-geral Walter Zanini (1925-2013). Em 1981, passa a fazer parte do corpo docente do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) – atual Instituto de Arquitetura e Urbanismo –, pertencente à USP, onde começa a lecionar disciplinas sobre artes plásticas. Em 1986, escreve seu primeiro texto para um catálogo de exposição e, em 1988, passa a publicar artigos nas revistas Galeria e Guia das Artes.
Entre 1990 e 1992, atua como curador de um conjunto de exposições temporárias do Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC/USP). É assessor de artes plásticas da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo durante o secretariado de Ricardo Ohtake (1942). Nesse período, atua como coordenador e curador, com o filósofo Nelson Brissac Peixoto, na primeira mostra Arte/Cidade (Cidade sem Janelas), em 1994. No mesmo ano, é responsável pela curadoria da retrospectiva do artista Nelson Leirner (1932). É curador da Bienal Brasil Século XX, em 1994. Em 1996, trabalha como curador-adjunto da 23ª Bienal de São Paulo. Entre 1998 e 2000, é o curador-geral do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ). Após uma breve passagem pelo Departamento de Artes Plásticas da Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA/USP), em 2003, Agnaldo Farias transfere-se para o Departamento de História da Arquitetura e Estética do Projeto da FAU/USP, onde é professor. Em 2002, é responsável pela curadoria da representação brasileira da 25ª Bienal de São Paulo. Ao lado do curador Moacir dos Anjos (1963), assina a curadoria geral da 29° Bienal de São Paulo, em 2010, e mantém a parceria na representação brasileira da 54ª Bienal de Veneza, em 2011, com uma exposição de Artur Barrio (1945).
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CLAUDIA MELLI
1966. São Paulo, Brasil
Clauda Melli utiliza em sua recente produção o vidro como suporte para sua delicada poética da atenção, na fronteira entre o desenho, a pintura e a imagem fotográfica. A artista enfrenta os limites da percepção ao desarticular os procedimentos de técnicas e temas clássicos – como a paisagem –, para a construção de cenas repletas de ausência, esvaziadas de tempo. Sua obra discute ainda práticas fotográficas como enquadramento e luz, e também a questão da autenticidade das imagens.
A exposição individual Lugares Onde Nunca Estive no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em 2015, reuniu sob a curadoria de Luiz Camillo Osorio, uma síntese de sua trajetória artística organizada em cinco séries distintas.
Em 2009 na Galeria Eduardo Fernandes exibiu obras na exposição coletiva Três Atos, Três Artistas e, nos anos seguintes realiza na galeria as exposições individuais: Tudo na vida é um país estrangeiro, em 2011, E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música, em 2015, e Revoadas em 2018.
Seus trabalhos já foram expostos no Rio de Janeiro em diversas instituições, museus e galerias, como o Centro Cultural Correios, Casa França Brasil, Museu da República, Parque Lage e Galeria Durex. Suas obras fazem parte de coleções como as do Banco Espírito Santo, Brazil Golden Art – BGA Fund, H. Martins e F. Feitosa e da Coleção Gilberto Chateaubriand do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
Claudia Melli consolidou sua formação artística durante os anos 1990 por meio de diversos programas oferecidos pela Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, frequentando cursos de desenho, pintura, gravura e teorias da arte. Entre seus mestres destacam-se Luiz Ernesto, Fernando Cochiarale, Charles Watson e Malu Fatorelli.